Os primeiros passos para a instalação de um hospital remontam a 1834, quando a Câmara da Figueira da Foz requereu ao Governo a cedência do do Convento de Santo António para neste se poder instalar o cemitério da então vila (a proibição de enterros nas igejas tinha sido decretada em 1833), os Paços do Concelho, escola pública primária e um hospital. Esta pretensão foi aprovada a 19 de junho de 1839 muito por influência do então ministro do Reino, o ilustre figueirense António Fernandes Coelho.
Com a fundação da Santa Casa da Misericórdia em 16 de setembro de 1839 tendo em vista a sua reconversão em hospital bem como assegurar a sua administração, os terrenos sobrantes e a parte do convento destinada a hospital passaram para o seu domínio logo a 12 de dezembro deste ano.
A fundação do hospital ficou a dever-se à iniciativa do benemérito José da Silva Soares, verificando-se o internamento dos primeiros doentes em 3 de março de 1844, tendo as obras vindo a ser ultimadas só em 1886 graças à benemerência e atuação de Afonso Ernesto de Barros, Visconde da Marinha Grande, que foi provedor da Misericórdia 35 anos consecutivos a partir de 1882. (1)
Aquando do 25 de Abril de 1974, as instalações do Hospital da Figueira da Foz encontravam-se bastante degradadas devido ao 'peso' dos seus 130 anos. O serviço de urgência era um espaço de verificação para de seguida enviar doentes ou sinistrados para Coimbra.
Ora na Gala estava um espaço hospitalar pronto mas encerrado, tendo um grupo de figueirenses iniciado um projeto para o colocar em funcionamento, o que foi moroso mas conseguido, tendo sido necessário efetuar várias alterações e arranjos pois devido ao tempo que esteve fechado, o piso e as próprias canalizações estavam já degradadas.
Recorde-se que este edifício tinha sido concluído na década de sessenta do século passado, construído de raiz, e vocacionado para tratamento de doenças respiratórias e denominado Sanatório Hélio-Marítimo.
Muitos afirmaram na altura que a ocupação foi muito ‘precipitada’, que se não tivesse acontecido a cidade teria mesmo um hospital no seu seio e construido de raiz para o efeito. Mas na verdade já eram quase “impossíveis” os tratamentos no edifício antigo da Misericórdia, com piso de madeira apodrecido no 1º andar e onde até chovia na sala de operações, havendo um único enfermeiro de noite que atendia a Urgência e as necessidades dos doentes internados. Caso considerasse necessário chamava o médico.
O edifício da Gala estava equipado e pronto a funcionar como Centro de Reabilitação, tendo o mobiliário e equipamento sido desviado pouco antes da 'ocupação' para diversos locais, entre os quais os estaleiros navais e o hospital dos Covões.
Os médicos que vieram de Coimbra, os "7 Magníficos", eram os drs. Abílio Veiga de Oliveira, António Serrão, Alberto Seabra, Delfim Pena, João Bento Pinto, Afonso Branco e Luís Santo Amaro.
A primeira Comissão Instaladora foi constituída por António Menano (gerente / administrador e o principal mentor desta arrojada ação), dr. Joaquim Feteira, dr. Abílio Bastos, enf.º Armando Aleixo e enf.ª Piedade Bita.
A abertura do Hospital Distrital da Figueira da Foz na Gala foi em novembro de 1975, e de emergência, com aviso 12 horas antes, para dar apoio a um surto de cólera que então grassava no país.
Com tão curto espaço de tempo para preparar a receção aos doentes, os poucos trabalhadores existentes trabalharam 48 horas seguidas para dar respostas a dezenas de problemas impensáveis, tanto a nível dos tratamentos como de energia eléctrica, águas, esgotos, etc.
Com estes espírito de abnegação e competência de todos, chegou-se ao Hospital que hoje se pode ver... (2)
(1) Extratos do livro 'A Figueira da Foz e o desenrolar da História' de Manuel Joaquim Moreira dos Santos. (2).
(Fotos do arquivo fotográfico, e compilação, de António Flórido - jan.2020)
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