18.10.15

Joaquim Jorge (Charlot), Júlio de Carvalho (Julito) e Sebastião P. Monteiro (Bastião): A história dos famosos acrobatas tauromáquicos figueirenses aqui recordada em forma de homenagem 50 anos depois!

Os acrobatas tauromáquicos da Figueira da Foz, audazes, famosos e bairristas, foram o Joaquim Jorge (Charlot), o Júlio de Carvalho (Julito) e o Sebastião P. Monteiro (Bastião). 
No início da década de 30 do século passado os então ousados e atletas ‘rapazitos’ Joaquim Jorge e Júlio de Carvalho, aficionados da Festa Brava e sobretudo das touradas realizadas no Coliseu Figueirense, experimentaram ‘por brincadeira’ realizar umas acrobacias com um garraiozito. Corre por detrás, finta pela frente e, numa pequena investida do bicho o Joaquim Jorge, ginasta aprimorado, saltou-lhe por cima, ficando de pé no outro lado. 
O Júlio de Carvalho achou piada àquilo, e realizou também o mesmo acrobático salto. Entusiasmados, aprimoraram acrobacias mais ousadas e já por cima de touros “a sério”! Até que participaram pela primeira vez numa tourada de início de época, “bailando” os touros, esquivando-se “in extremis” às investidas, tocando-lhes nos cornos em corrida e, sobretudo, o grande feito de lhes saltar por cima quando eles os “atacavam”! 
Foi sucesso imediato! O Joaquim Jorge adotou o nome de “Charlot” por, nas suas exibições, imitar o famoso e conhecido ator, e como o Júlio de Carvalho já era alcunhado de “Julito”, formaram o primeiro duo “Charlot e Julito acrobatas tauromáquicos”. 
Desde logo começaram a ser solicitados para entrar em touradas e garraiadas no Coliseu Figueirense. E nos anos seguintes, tourada que não anunciasse a sua participação arriscava-se a fracasso! Os figueirenses queriam vê-los, curiosos vinham das redondezas e turistas de vários pontos de Portugal, e os espanhóis nas suas férias de época de verão na nossa cidade não dispensavam vê-los em exibição em todas as touradas! 
E durante cerca de uma década o duo funcionou em pleno. Com exibições contínuas e gratuitas (repetimos: gratuitas!) ajudaram muitas associações de apoio a crianças e idosos. Foram acrobatas tauromáquicos de grande nível e duma simplicidade enorme. Arte, arrojo e mestria, fizeram as delícias de muitos: "-Saltar por cima dos touros, fazê-lo de forma elegante, acrobática, magnífica!" 
No inicio da década de 40 o Joaquim Jorge (Charlot) abandonou as lides, crê-se que por a idade já começar a pesar e para se dedicar mais ao seu emprego no Casino Peninsular da Figueira da Foz. 
E quem o substituiu foi Sebastião Pimentel Monteiro, cuja grande paixão era a ginástica acrobática que praticava no Sporting Clube Figueirense, o que o terá ajudado a fazer ‘parelha’ com o Júlio de Carvalho, formando depois com este o duo “Jul-Bastião”. 
Assim, e com esta substituição, as ousadias tauromáquicas continuaram: saltos à vara, de ‘peixe’ e mortais por cima dos touros e espetando bandarilhas a palmo, crê-se que até 1965!
“Eles entravam em campo, e nas grandes touradas a sua presença era sempre a mais esperada. Entravam em cena, desafiavam o touro, este partia que nem um foguete, mas o Sebastião e o Júlio davam um salto acrobático por cima dele, um a um ou os dois ao mesmo tempo… e caíam de pé do outro lado por entre estrondosas salvas de palmas. O touro ficava atónito, aparvalhado, pois tinha partido para um alvo que desaparecera de repente!” 
Foi a partir daqui que a fama do duo mais se expandiu, muito devido à tendência que o Sebastião tinha para a escrita e jornalismo. 
Autor de diversos livros, cadernos e brochuras escritas, pintadas e desenhadas à mão (que paciência!) ou na sua, já na altura velhinha, máquina de escrever ‘Reminghton’, presenteava-os depois a amigos íntimos (fazia várias cópias todas à mão, não havia na altura fotocopiadoras!) e divulgava a Figueira da Foz, as fotos antigas e escritos que tinha da cidade (foi tipógrafo do jornal local “Voz da Justiça”) e, claro, as acrobacias tauromáquicas da dupla Jul-Bastião! 
A partir daqui tornaram-se conhecidos além-Figueira, começando a ser requisitados para vários pontos de Portugal como Campo Grande, Santarém, Porto de Mós, Vila Franca de Xira, chegando mesmo a atuar em Espanha, mas os grandes êxitos foram em Lisboa e com largas e agradáveis críticas dos jornais: 
Sebastião / Charlot / Júlio
“Diário de Lisboa: Notáveis são os dois rapazes da Figueira da Foz ‘Jul-Bastião’ que obtiveram tão grande êxito! Este número agradaria em Espanha e até em França!” – “República: Louvor especial para os acrobatas da Figueira da Foz “Jul-Bastião”, verdadeiros artistas!” – “Diário Popular: Trata-se de um número que veio por uma nota inédita, muito apreciável, no toureio cómico!” – “A Voz: O número de maior sensação foi, sem dúvida, o citado duo com arriscados e aparatosos números!”. Isto para além dos jornais da Figueira que não lhes regateavam os devidos encómios. 
Tinham sempre uma exigência: Que o nome da Figueira da Foz aparecesse nos cartazes! 
E assim foram três os acrobatas da Figueira da Foz que sempre constituíram um duo e que agitaram a tauromaquia em Portugal. Há a perceção que durante uma época taurina ainda chegaram a atuar os três juntos, mas essencialmente atuaram sempre como um duo: Primeiro o duo “Charlot / Julito”, depois o duo “Jul / Bastião”. Digamos que o Charlot foi o da ideia e o criador, o Sebastião o grande divulgador e inovador, e o Julito a “trave-mestra”, o do meio, que nunca permitiu que a ideia de um duo tauromáquico acabasse, fazendo a ‘ponte’ entre o Charlot e o Sebastião.
(Recolha e compilação dos factos de António Flórido / Figueira da Foz / 2015)

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