Quando ocorre a Revolução de 25 de abril de 1974 havia 2 quartéis na Figueira da Foz, o CICA 2 no Pinhal e o RAP 3 na Lapa.

No RAP 3, o capitão Dinis de Almeida preparava há muito a revolta junto dos seus recrutas, cantando com eles os versos de António Aleixo:
«Vós que lá do vosso Império/Prometeis um mundo novo/Calai-vos, que pode o povo/Querer um mundo novo e sério» e «Que importa perder a vida/Em luta contra a traição/Se a Razão mesmo vencida/Não deixa de ser Razão?»
Na madrugada de 25 de abril de 1974, da Figueira da Foz, do RAP 3, da Praça Dr. Francisco Lopes Guimarães, partiu “a caravana da liberdade”, comandada pelos capitães Dinis de Almeida e Fausto Pereira, que teria um papel de relevo no sucesso da implantação de um regime democrático em Portugal.

Este contingente militar foi denominado de Agrupamento Militar Norte e, pelo alvorecer do dia, deslocar-se-ia da Figueira da Foz em direção ao Forte de Peniche e depois a Lisboa onde ocuparam a Região Aérea de Monsanto.
Pela 1 hora da madrugada, do dia 25 de abril, os capitães Ferreira da Cal, Góis Moço, David Martelo e Lucena Coutinho e o tenente Garcia, vindos da Escola Central de Sargentos de Águeda (ECS), aproximam-se do quartel do RAP 3, onde ainda quase nada tinha acontecido.
Estes 5 oficiais, provenientes de Águeda, pertenciam ao MFA e vinham apoiar o comando das operações na Figueira da Foz onde só havia 3 oficiais do Movimento das Forças Armadas.

Iniciam de imediato o plano de controlo do RAP 3, detendo os seus oficiais subalternos milicianos e o comandante da unidade, coronel Sílvio Aires de Figueiredo.
Pelas 3 horas e 40 minutos, chega ao RAP 3 a coluna do RI 10 de Aveiro, comandada pelo capitão Pizarro.
A coluna do RI 10 chegou antes da hora prevista, o que veio alterar os planos anteriormente definidos. O movimento gerado só não acordou o coronel Aires de Figueiredo e o major Malaquias porque não se encontravam no quartel.

Decorrerá ainda algum tempo até que se constitua o Agrupamento Norte. A coluna do RAP3 demora a formar, é preciso municiar as tropas chegadas de Aveiro (RI 10) e aguarda-se que cheguem as forças do CICA 2 e do RI 14.
O comando do RAP 3 passa a ser assumido pelo capitão Ferreira da Cal, como oficial mais antigo, entretanto chegado da ECS de Águeda.
Pelas 3 horas e 55 minutos, sai de Viseu a companhia auto transportada do RI 14, comandada pelo capitão Silveira Costeira, constituída por 4 viaturas pesadas, 1 ambulância e 1 viatura de exploração civil. Passa por Tondela, Santa Comba Dão, Luso, Anadia e Cantanhede, dirigindo-se para a Figueira da Foz.
Pelas 6 horas, entra no quartel do RAP 3 uma coluna do CICA 2 onde estava o oficial miliciano Jaime Gama, futuro ministro.
Pelas 7 horas, o Agrupamento Norte, envolvendo nesta altura forças do RAP 3 e do CICA 2, ambos da Figueira da Foz, e do RI 10 de Aveiro, sai do quartel do RAP 3 e dirige-se em direção a Leiria com 6 bocas-de-fogo de 105 mm e cerca de 300 homens transportados em 40 viaturas.

O Agrupamento tem agora cerca de 60 viaturas e mais de 500 homens.

Pelas 21 horas, os militares do RAP 3 e da EPI deslocam-se ao Comando da 1ª Região Aérea, em Monsanto, prendem os ministros da Defesa, do Exército e da Marinha, e de outras altas patentes militares que ali se haviam refugiado desde a tarde, conduzindo-os ao RE 1.
No dia 26 de Abril, pelas 13 horas, inicia-se a libertação dos presos políticos nas cadeias de Caxias e Peniche, com a participação de militares do CICA 2 e do RAP 3.
Foi esta a heroica participação dos militares do RAP 3 e do CICA 2, permitindo-nos viver hoje num país democrático, com liberdade de expressão e de reunião, com partidos políticos, com liberdade sindical, com direito à greve, sem censura, sem presos políticos, sem guerra colonial e com menor atraso cultural, social e económico relativamente aos restantes países da Europa.
(Texto de Fernando Curado, 14.04.019)
Sem comentários:
Enviar um comentário