Desde logo do agrado dos figueirenses, tornou-se um pólo
de concentração dos comerciantes da urbe e também das gentes do campo e das
margens do rio Mondego que ali encontraram um local apropriado para a venda e
troca dos seus produtos. Mas também se tornou um local de encontro de gentes,
culturas e tradições, quase como que uma ‘sala de visitas’ para convívio e
encontros de amizade.
Assim, não é de admirar que por volta de 1929, ano em que foi deliberado e instituido o feriado municipal a 24 de junho, ali se
tenham começado a efetuar os bailes de São João que logo se tornaram do agrado
geral.
Por volta das décadas de 40 e 50 do século passado estes
Bailes de S. João atingiram o auge da popularidade, arrastando autênticas
excursões de pessoas, não só do concelho mas também de vários pontos de Portugal
e até de Espanha. Ao início da noite o polícia Baptista regulava o trânsito, o
Jaime vendia “O Século” e o “Taxeira” o “Palhinhas”, no jardim a Sofia fazia as
pipocas e muitos entravam a saborear um gelado do Chico!
O Baile de São João sempre foi tendo diversas alcunhas,
tais como o ‘baile das cebolas’, ‘baile das couves’ e ‘baile dos magalas´. E o
mercado, nessa noite de 23 para 24 de junho, era apelidado de “O cabaret da
couve”.
Os apelidos de ‘cebolas’ e da ‘couve’ podem-se considerar
lógicos devido aos produtos transacionados no local. E devido à razoável
afluência de militares (a Figueira da Foz tinha na altura dois grandes
quartéis, o CICA 2 e o RAP 3) que nas noites de S. João conseguiam autorização
para uma ‘noite alargada’, o mercado ficava repleto de soldados. Ora como a lei
militar obrigava os militares a andar sempre fardados, daí nasceu o apelido de ‘baile
dos magalas’.
E os magalas iam à procura das ‘sopeiras’ e também à
espreita das criadas espanholas que vinham muito aos bailes, sempre bem
arranjadas com os seus característicos aventais.
Em alguns anos chegaram a realizar-se três bailes seguidos
nos dias 22, 23 (véspera de S. João) e 24 de junho (dia de S. João). Claro que
a noite/madrugada da véspera era a principal pois o mercado não fechava portas!
A entrada fazia-se só pelo portão do lado do rio e tinha um preço quase
simbólico que servia para pagar a orquestra, que quase sempre era a do Quiaios
Clube com o vocalista Victor Melúrias.
Já de madrugada, lá os soldaditos se aninhavam debaixo
das bancas a dormitar e, como a fome apertava, iam estendendo uma mão marota
por debaixo das tendas que cobriam as bancas e lá vinha uma maçã, pera, banana
ou outra fruta qualquer para mitigar a ‘fomeca’ que começa a ‘apertar’! E os
donos das bancas sabiam que isso ia acontecer mas não se importavam, ainda que
alguns também dormissem no mercado para evitar abusos de maior!
E dessas noites por um lado cálidas e por outro animadas
vários namoricos surgiram e muitos casamentos se efetuaram.
Com o 25 de Abril de 1974 fecharam os quartéis, e assim
acabaram os soldados e a designação de ‘o baile dos magalas’. Os próprios Bailes
de S. João no Mercado Municipal eng Silva também nunca mais se realizaram.
(Pesquisa de António Flórido / Figueira da Foz / Junho
2015)
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