12.6.15

O Mercado da Figueira da Foz, os Bailes de São João e as suas diferentes designações

Logo a seguir à inauguração do jardim em 1891, foi a vez de ser inaugurado o Mercado Municipal em 1892, neste se concentrando todo o comércio que até então se realizava no local onde hoje se situa a Praça Velha.
Desde logo do agrado dos figueirenses, tornou-se um pólo de concentração dos comerciantes da urbe e também das gentes do campo e das margens do rio Mondego que ali encontraram um local apropriado para a venda e troca dos seus produtos. Mas também se tornou um local de encontro de gentes, culturas e tradições, quase como que uma ‘sala de visitas’ para convívio e encontros de amizade.

Assim, não é de admirar que por volta de 1929, ano em que foi deliberado e instituido o feriado municipal a 24 de junho, ali se tenham começado a efetuar os bailes de São João que logo se tornaram do agrado geral.

Por volta das décadas de 40 e 50 do século passado estes Bailes de S. João atingiram o auge da popularidade, arrastando autênticas excursões de pessoas, não só do concelho mas também de vários pontos de Portugal e até de Espanha. Ao início da noite o polícia Baptista regulava o trânsito, o Jaime vendia “O Século” e o “Taxeira” o “Palhinhas”, no jardim a Sofia fazia as pipocas e muitos entravam a saborear um gelado do Chico!

O Baile de São João sempre foi tendo diversas alcunhas, tais como o ‘baile das cebolas’, ‘baile das couves’ e ‘baile dos magalas´. E o mercado, nessa noite de 23 para 24 de junho, era apelidado de “O cabaret da couve”.

Os apelidos de ‘cebolas’ e da ‘couve’ podem-se considerar lógicos devido aos produtos transacionados no local. E devido à razoável afluência de militares (a Figueira da Foz tinha na altura dois grandes quartéis, o CICA 2 e o RAP 3) que nas noites de S. João conseguiam autorização para uma ‘noite alargada’, o mercado ficava repleto de soldados. Ora como a lei militar obrigava os militares a andar sempre fardados, daí nasceu o apelido de ‘baile dos magalas’.

E os magalas iam à procura das ‘sopeiras’ e também à espreita das criadas espanholas que vinham muito aos bailes, sempre bem arranjadas com os seus característicos aventais.

Em alguns anos chegaram a realizar-se três bailes seguidos nos dias 22, 23 (véspera de S. João) e 24 de junho (dia de S. João). Claro que a noite/madrugada da véspera era a principal pois o mercado não fechava portas! A entrada fazia-se só pelo portão do lado do rio e tinha um preço quase simbólico que servia para pagar a orquestra, que quase sempre era a do Quiaios Clube com o vocalista Victor Melúrias.

Já de madrugada, lá os soldaditos se aninhavam debaixo das bancas a dormitar e, como a fome apertava, iam estendendo uma mão marota por debaixo das tendas que cobriam as bancas e lá vinha uma maçã, pera, banana ou outra fruta qualquer para mitigar a ‘fomeca’ que começa a ‘apertar’! E os donos das bancas sabiam que isso ia acontecer mas não se importavam, ainda que alguns também dormissem no mercado para evitar abusos de maior!

E dessas noites por um lado cálidas e por outro animadas vários namoricos surgiram e muitos casamentos se efetuaram.  

Com o 25 de Abril de 1974 fecharam os quartéis, e assim acabaram os soldados e a designação de ‘o baile dos magalas’. Os próprios Bailes de S. João no Mercado Municipal eng Silva também nunca mais se realizaram.

(Pesquisa de António Flórido / Figueira da Foz / Junho 2015)

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